Aos 90 anos, agente duplo da Guerra Fria leva vida 'feliz' na Rússia

22/11/2012 07:24

 

O 90º aniversário de um agente duplo do auge da Guerra Fria foi ocasião para uma extensa comemoração na Rússia, com um documentário, uma rara entrevista a um jornal enfatizando sua aposentadoria tranquila no país e uma saudação pessoal por parte do presidente Vladimir Putin.

O espião George Blake traiu a inteligência britânica em 1950, foi descoberto em 1961 e condenado a 42 anos de prisão. Mas ele escapou cinco anos depois usando uma escada de corda e agulhas de tricô, conseguiu chegar na União Soviética e foi viver seus últimos anos serenamente em uma casa de campo nos subúrbios de Moscou.

Sua história contrasta com a de outros espiões russos que atuaram na inteligência britânica na mesma época, mais notavelmente Kim Philby, que fugiu para a União Soviética em 1963. Há quem diga que Philby sofreu de depressão e alcoolismo depois de seu retorno, que alguns disseram ter sido resultado de sua decepção e desilusão com o Estado comunista que encontrou quando retornou. Ele morreu em 1988.

Blake, por outro lado, vive bem e aparentemente feliz com sua pensão russa, e ao longo dos anos resgatou contato com seus filhos na Inglaterra, que viajaram a Moscou para as festividades de domingo. "Sou uma pessoa feliz e de muita sorte", disse Blake a um entrevistador da Gazeta Rossisskaya, o jornal oficial do governo.

Embora tenha sido condenado como um traidor no Reino Unido - onde acredita-se que tenha sido responsável pela morte de dezenas de agentes britânicos -, ele deixou claro que não pensa muito sobre o passado.

"Não acredito em vida após a morte", disse ele. "Na minha infância, eu queria ser padre, mas isso passou. Assim que nosso cérebro para de receber sangue, nós deixamos de existir, e depois disso não haverá nada. Nenhuma punição para as coisas ruins que você fez, nem recompensas para as coisas boas."

Parece improvável que Blake viva o restante de seus dias tão confortavelmente.

Um comunista convicto desde a época em que foi prisioneiro na Coreia do Norte, ele foi responsável por uma esmagadora derrota da espionagem americana com a descoberta de um túnel secreto que os americanos tinham cavado até Berlim Oriental para deixar que a CIA tivesse acesso a cabos telefônicos soviéticos. Utilizando informações fornecidas por Blake, a KGB descobriu e acabou com o túnel depois de 11 meses e 11 dias de operação, de acordo com uma pesquisa publicada no livro "Battleground Berlim" ou (Campo de Batalha Berlin em tradução literal).

Blake foi exposto por um agente duplo polonês alguns anos mais tarde.

Depois de escapar da prisão Wormwood Scrubs, em Londres, ele foi contrabandeado para Berlim, em uma caixa de madeira na parte de trás de uma van. Em uma entrevista publicada na semana passada, ele disse que, em seguida, apresentou-se aos guardas de fronteira em Berlim Oriental, pediu para falar com um oficial soviético, e quando lhes pediram para que aguardasse, caiu em um sono profundo.

"Estes têm sido os anos mais felizes de minha vida e os mais pacíficos", disse ele sobre sua vida em Moscou. Ele descreveu, com muito carinho, como ele e outros desertores britânicos têm mantido o contato em suas novas vidas na Rússia. Sua mãe, disse ele, ficou amiga de Philby pois "gostava de beber martínis à noite, e Kim também." Ele lembrou de sua vontade, logo depois que o Serviço de Inteligência Exterior russo lhe deu um carro Volga, de fazer uma viagem pelo país. "Naquele tempo", disse ele, com tristeza, "eu sabia muito pouca coisa a respeito das estradas russas."

Blake, conhecido na Rússia como Giorgi Ivanovich Bekhter, raramente aparece em público. Quando um repórter do Daily Telegraph o localizou perto de sua casa, recentemente, ele explicou que não poderia dar entrevista sem a permissão do Serviço de Inteligência Externa.

Putin, também um ex-oficial de inteligência, homenageou o serviço de Blake para a União Soviética e lhe disse que ele estava na "constelação de homens fortes e corajosos".

"Você e seus colegas fizeram uma enorme contribuição para a preservação da paz, da segurança e da paridade estratégica", escreveu ele em um telegrama divulgado em 11 de novembro. "Talvez tudo isso não seja visível para aqueles que não são cidadãos do país, mas um trabalho tão importante quanto o seu merece um grande reconhecimento e respeito."

Por Ellen Barry

FONTE: IG/ÚLTIMO SEGUNDO/NEW YORK TIMES (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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