Brasileiro é eleito a cargo máximo da Organização Mundial do Comércio

08/05/2013 08:01

 

O embaixador brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo, de 55 anos, foi eleito nesta terça-feira (7) diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele substituirá o francês Pascal Lamy, no cargo desde 2005.

Azevêdo disputou o cargo com o mexicano Herminio Blanco, de 62 anos. Para vencer a eleição, era preciso obter ao menos 80 votos do total de 159 na entidade. A apuração final ainda não foi divulgada

Nascido em Salvador, Azevêdo representa o Brasil na OMC desde 2008, após ter sido subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Ministério de Relações Exteriores (2006-2008), e ter chefiado o departamento econômico da pasta, representando o País na Rodada Doha. 

Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), ressalta que a eleição de Azevêdo não significa que o Brasil será favorecido nas negociações internacionais e disputas com outros países, devido à neutralidade exigida pelo cargo. "O primeiro dever do líder eleito é ser imparcial", afirma o diretor do departamento de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

Apesar disso, Ricupero acredita que o País ganhará visibilidade e prestígio com um diplomata brasileiro na OMC, ainda mais com a tradição brasileira de exercer um papel ativo na entidade. "Conheço Azevêdo pessoalmente e creio que ele é o mais preparado para o cargo, por já atuar na entidade há vários anos", observa. 

México e Brasil têm defendido ideias opostas nas negociações sobre o livre comércio. Enquanto o Brasil mantém uma postura contrária a barreiras comerciais entre as nações e defende elevar tarifas a importações – o que rendeu queixas de EUA e Japão –, o México é mais favorável à liberalização do comércio internacional.

Dificilmente, entretanto, Azevêdo deverá encampar na organização posturas do governo brasileiro. Um exemplo é a crítica de Brasília ao uso do câmbio para dificultar importações e estimular exportações.

"Vários países acreditam que seria importante olhar para essa questão, mas ninguém sabe qual seria a resposta e nem há consenso sobre se isso deveria ser discutido", diz Ricado Meléndez-Ortiz, co-fundador e diretor-executivo do Centro Internacional para Estudos do Comércio e do Desenvolvimento Sustentável (ICTSD), da Suíça. "Azevêdo demonstrou indepedência das posições brasileiras, e essa foi uma agenda brasileira. Talvez não seja a agenda de Roberto Azêvedo [na OMC]."

'Consertar a OMC'

Jeffrey J. Schott, membro do Comitê Consultivo de Política Econômica Internacional do Departamento de Estado dos EUA, ressalta a postura discreta de Washington na eleição da OMC. Como foi negociador-chefe do NAFTA – sigla para o acordo de livre comércio que reúne Canadá, México e Estados Unidos – em tese, Blanco poderia ter mais simpatia norte-americana.

"Não há uma posição oficial dos EUA e não houve indicação sobre em qual dos dois iria votar", diz o pesquisador. "Mas como são candidatos do nosso hemisfério, os EUA estarão contentes em trabalhar com qualquer um deles".

Membro do Instituto Peterson para Ecomomia Internacional, Schott destaca a experiência maior de Azevêdo em Genebra, mas considera Blanco também uma ótima opção. E diz que o brasileiro, agora eleito, terá como principal desafio fortalecer o órgão.

"O embaixador Azevêdo terá de utilizar seu conhecimento detalhado da OMC para desenvolver uma estratégia para consertar a forma como as coisas são feitas em Genebra [sede do órgão] para que a OMC possa, uma vez mais, se tornar um forum efetivo para negociações multilaterais de comércio", diz Schott.

Apoio entre países em desenvolvimento

Embora o resultado da votação ainda não tenha sido divulgado, os rumores são de que a União Europeia tenha votado majoritariamente em Blanco. Em compensação, Azevêdo teria obtido apoio maior entre os países em desenvolvimento – como Rússia, Índia, China e África do Sul, os outros membros dos Brics.

Schott considera que a tendência da União Europeia em votar em Blanco foi importante, mas não decisiva. "Basicamente, o candidato que saiu na frente é o que teve o apoio de uma área mais geograficamente ampla. A União Europeia é uma das áreas de comércio mais importantes, mas não foi suficiente para definir a eleição."

Para Meléndez-Ortiz, do ICTSD, os países em desenvolvimento viram em Azevêdo alguém mais atento aos desafios deles. E a expectativa é que o brasileiro tenha uma postura mais positiva em termos de desenvolvimento sustentável. 

"O Brasil tem sido um dos campeões do desenvolvimento sustentável nos últimos 20 anos, e possivelmente Azevêdo desenvolveu uma grande sensibilidade sobre o que isso significa.

Reações

Em nota, a presidente Dilma Rousseff disse que o governo brasileiro recebe com "satisfação" a notícia, e que caberá à OMC "dar um novo, equilibrado e vigoroso impulso ao comércio mundial, fundamental para que a economia global entre em novo período de crescimento e justiça social".

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, também comemorou a escolha do embaixador Roberto Azevêdo como novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Segundo ele, a eleição do brasileiro é "boa para o Brasil e melhor para a OMC".

De acordo com o ministro, o governo brasileiro trabalhou para a escolha de Azevêdo por considerá-lo o melhor candidato, mas a eleição não deve facilitar as negociações comerciais do País. 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), em nota, informou esperar que a presença de Azevêdo à frente da OMC "fortaleça o sistema multilateral de negócios".

Para o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, o Itamaraty trabalhou intensamente pela candidatura do embaixador brasileiro.

"Essa é uma vitória do Brasil e também uma vitória pessoal de Azevêdo", afirmou.

OMC

Criada em 1995, a OMC surgiu a partir do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), implantado após a Segunda Guerra Mundial. Hoje com 157 membros, a entidade gerencia e supervisiona acordos internacionais de comércio entre países membros, além de solucionar os conflitos gerados por estes acordos.

FONTE: IG/ ECONOMIA/AGÊNCIA ESTADO (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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