Entre sucessos e arrependimentos, Guilherme Arantes celebra 35 anos de carreira e diz que já não é mais um "hitmaker"

29/07/2011 07:30

O cantor e compositor paulistano Guilherme Arantes em foto de divulgação

A carreira de Guilherme Arantes é daquelas de causar inveja nos artistas brasileiros dos tempos atuais. Afinal, são 35 anos de dezenas de grandes sucessos e mais de 30 músicas em trilhas de programas televisivos --a maioria delas em novelas da Rede Globo entre o fim dos anos 70 e o meio da década de 90. Tudo sem nunca ter precisado sacrificar a coisa mais importante para quem não é apenas um cantor, mas um compositor: a riqueza das melodias e a sinceridade de suas letras.

 

O músico paulistano, que completou 58 anos de idade nesta quinta-feira (28), vai comemorar sua bem sucedida trajetória musical com uma sequência de shows que tem seu início no Citibank Hall, em São Paulo, no dia 12 de agosto. O ano de 2011 marca ainda o lançamento de "A Cara e o Coração", tributo feito por bandas de Salvador que conta com reinterpretações das canções de dois dos álbuns mais obscuros de Guilherme Arantes: "A Cara e a Coragem", de 1978 e "Coração Paulista", de 1980 (clique aqui para baixar a canção "Viva!").

 

A carreira do compositor teve seu início em 1974, antes mesmo de ser artista solo. Ao lado dos músicos Claudio Lucci, Egydio Conde, Gerson Tatini e Diógenes Burani, um Guilherme Arantes de apenas 21 anos formou o Moto Perpétuo e lançou com o grupo somente um disco, considerado um dos mais importantes do rock progressivo nacional. Dois anos depois, o pianista estreou sua carreira solo, em um álbum homônimo que fez surgir seu primeiro grande hit: "Meu Mundo e Nada Mais".

 

Era o primeiro de muitos sucessos. Especialmente nos anos 80, o que se ouviu foi uma enxurrada de hits em um curto período de tempo --algo raro nos dias de hoje--, como "Amanhã", "Lindo Balão Azul", "Cheia de Charme", "Loucas Horas", "Pedacinhos", "O Melhor Vai Começar", "Brincar de Viver", "Deixa Chover" e "Fã Número 1", entre muitas outras.

 

Guilherme Arantes descarta carregar, ainda hoje, o rótulo de hitmaker. "Já fui. A gente é muito relativo a um contexto", falou em entrevista por telefone ao UOL Música. "Fui de uma época favorável. Era a classe média da descompressão ideológica com o fim da ditadura. Então, chega a nossa geração e eu posso fazer uma coisa mais leve, porque as pessoas estavam querendo ser felizes. Consegui construir bastante coisa, mas tenho essa consciência, de relativizar. Estava dentro do caldo de cultura e, sem ele, você não consegue prosperar muito", opinou.

 

Nem tudo, entretanto, foi tão fácil quanto parece. Na década de 80, Guilherme Arantes sofreu com críticas por parte da imprensa por falar de amor de forma simples e sincera. "Isso destoava muito do pop rock da época, que era predominantemente masculino", lembra. "Era considerado brega pela crítica, que era toda ácida. A palavra de ordem do rock era uma coisa truculenta, mais 'cocaínica'. Nunca gostei desse negócio da atitude do rock. Sempre achei uma bobagem, um escudo para as pessoas esconderem os seus sentimentos".

O lado doce e romântico das letras do cantor é, segundo o próprio, fruto do fato de ter sido criado por mulheres. "Também sempre fui muito fã de artistas com alma feminina --como Chico [Buarque] e Vinícius [de Moraes]-- e da bossa nova, que é muito afeminada. É muito 'barquinho', 'beijinho', 'cantinho'. Tudo muito carinhoso, gostoso. Então, fiquei com uma característica de uma música bastante feminina e sentimental".

 

Olhando para trás, o pianista não consegue se lembrar de grandes arrependimentos nos 35 anos de carreira, mas gostaria de ter tratado a imprensa melhor e evitado declarações que magoaram algumas pessoas.

"Às vezes a gente é infeliz. Tinha visões preconceituosas no passado, principalmente com a imprensa. Devia ter tido mais amigos jornalistas, ir menos preparado para a porrada e mais aberto à troca. Às vezes, não era bem compreendido e ficava dando o troco, com ódio dos jornalistas. Foi uma lacuna na minha educação", lembra. 

 

Guilherme cita ainda as capas de seus álbuns como outro arrependimento. "Por conta dos fotógrafos e das escolhas da gravadora, querendo que eu fosse um 'cantante romântico' na linha de Julio Iglesias e Roberto Carlos, caí, muitas vezes, em armadilhas", diz, referindo-se às imagens de discos como "Despertar" (1986) e "Calor" (1986). "Mas acho que os enganei direitinho. Achavam que estavam gerando um 'cantante romântico', mas estavam criando um compositor que permaneceu".


Além das apresentações comemorativas ao redor do país, Guilherme Arantes pretende relançar o trabalho "New Classical Piano Solos", de 2000, que considera "muito especial" em sua carreira. Mas o cantor e compositor não pretende lembrar eternamente do glorioso passado e já pensa em um próximo álbum. “O que eu quero mesmo é fazer músicas novas no ano que vem. Vou preparar um disco bem pop rock, com a cara da minha geração”.

FONTE: UOL MÚSICA (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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