Furacão Sandy: danos a fornecedores podem afetar compras natalinas

19/11/2012 08:01

 

Os efeitos econômicos do Furacão Sandy estão ecoando além das áreas atingidas pela tempestade enquanto empresas alertam clientes em relação a atrasos, tentam retirar mercadorias de portos fechados e enfrentam pedidos cancelados.

Além de fechar os terminais marítimos e inundar armazéns, a tempestade também deu um nó nas entregas por causa das linhas de transmissão de força derrubadas, estradas fechadas e gasolina escassa em partes de Nova York e Nova Jersey.

A cadeia de suprimento está sofrendo um revés num instante crucial, no momento em que os varejistas normalmente trazem as últimas cargas às lojas para a temporada de compras natalinas, da qual os lojistas dependem para a lucratividade anual.

"As coisas estão ficando lentas", disse Chris Merritt, vice-presidente de soluções para cadeia de abastecimento de varejo da transportadora Ryder. "Toda esta parte da cadeia de fornecimento está obstruída."

A FedEx, por exemplo, alugou caminhões-tanque para abastecer os caminhões de entrega enquanto os postos de gasolina comerciais ficam sem o produto. A Ryder tem caçado caminhões de aluguel para elevar sua capacidade. A CSX, a maior empresa ferroviária, continua a dizer aos clientes para esperarem atrasos de pelo menos 72 horas nas remessas. Já os lojistas, da Amazon à Diane von Furstenberg, avisaram aos clientes para esperarem uma demora nas entregas.

Muitos economistas esperam que a tempestade tenha cortado até meio por cento do crescimento no quarto trimestre. Trata-se de uma grande redução, pois o crescimento anualizado estava previsto entre um a dois por cento antes da tempestade, e a economia encara outros ventos contrários, como a incerteza fiscal em Washington.

Embora as perdas econômicas provocadas pela tempestade devam ser significativamente menores do que as causadas pelo furacão Katrina, em 2005, o impacto da Sandy foi intensificado pelo fato de o Nordeste dos Estados Unidos ter alta densidade populacional. A região é responsável por aproximadamente US$ 3 trilhões em produção, quase 20 por cento do Produto Interno Bruto dos EUA, disse Gregory Daco, economista sênior da IHS Global Insight. "Parte do que se perdeu será entregue com atraso, mas parte se perdeu para sempre", ele avaliou.

Nos dias posteriores à tempestade, a Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey afirmou que todos os seus terminais marítimos principais estavam fechados. Embora partes do sistema tenham começado a reabrir, os atrasos continuam. O sistema portuário da área de Nova York é o maior da Costa Leste e o terceiro maior do país. Ano passado, passaram por ele US$ 208 bilhões em carga.

Em resultado dos fechamentos, os atrasos podem afetar a temporada natalina, segundo Paul Tsui, presidente da Associação de Agenciamento de Carga e Logística de Hong Kong.

Vários clientes com instalações na área de Nova York contaram que os "armazéns estão completamente danificados e, creio eu, a mercadoria dentro deles terá de ser informada como perdida às seguradoras", disse Tsui.

"Agora estamos chegando à interrupção dos pedidos sazonais para o Dia de Ação de Graças e do Natal", ele acrescentou, e as empresas que não cumpriram o prazo de entrega devem enviar os produtos pelo caro transporte aéreo, pagar multa aos varejistas pelos despachos atrasados ou enfrentar pedidos cancelados.

Merritt, da Ryder, disse esperar que alguns artigos, já anunciados para venda no dia seguinte ao de Ação de Graças – tradicionalmente o dia de compras mais movimentado do ano – não chegarão às lojas a tempo.

Os atrasos estão afetando seriamente pequenos comerciantes como Robert Van Sickle.

Sua empresa de fornecimento de produtos caninos, Polka Dog Bakery, confiava numa remessa de tubos de papelão da China com visual festivo, com a intenção de manter a popularidade dos petiscos natalinos para cachorros. Os produtos representam quase 15 por cento das vendas da empresa. Porém, o Terminal de Contêineres de Nova York, em Staten Island, onde os tubos chegaram pouco antes da tempestade, estava devastado, e a agência de transporte de Van Sickle não conseguia localizar os contêineres.

É tarde demais para fazer outra encomenda de tubos da China a tempo do Natal e Van Sickle tem dezenas de milhares de petiscos caninos assados empilhados na sede, em Boston. O seguro vai cobrir o custo dos tubos de papelão, mas não o produto final, e os valores não vão cobrir a receita perdida.

Ele foi forçado a telefonar para clientes como L. L. Bean e falar que provavelmente não conseguiria entregar os pedidos. "Sem este produto, estamos encrencados", disse Van Sickle. "Sou dono de empresa e é praticamente meu ano."

A Wayfair.com, que vende artigos domésticos pela internet, disse que 1.300 dos quatro mil fornecedores foram atingidos por diversos problemas, de falta de eletricidade a inundação. Niraj Shah, presidente da Wayfair, disse que a empresa se adequou, removendo ofertas de entrega em dois dias para os produtos afetados e tirando algumas mercadorias do site.

Segundo Shah, para os fornecedores incapazes de voltar à atividade em breve, "agora é tarde demais para fazer mais estoque para o Natal. Se o inventário foi arruinado por causa da inundação ou se ficarem fechados duas semanas, sinceramente, é uma época ruim do ano para algo do gênero".

Supermercados e outros comércios que dependem de itens perecíveis estão enfrentando problemas, pois atrasos de vários dias na entrega de carne e artigos hortifrutigranjeiros podem resultar em produtos estragados.

"Eles sofrem o impacto da capacidade de acessar as lojas porque as estradas não foram consertadas ainda, pelo trânsito e pela mera capacidade de conseguir um motorista para levar o caminhão às lojas", afirmou Kumar Venkataraman, sócio da consultoria A.T. Kearney.

Já Van Sickle, da Polka Dog Bakery, enfrenta a sensação de culpa de se preocupar com seus contêineres com embalagem para comida de cachorro quando a tempestade destruiu lares e matou pessoas. Ele está pensando em reembalar os biscoitos e doar o lucro para campanhas de alívio aos danos causados pela tempestade.

Segundo ele, "tem sido muito difícil avaliar o que está acontecendo em Nova York e Nova Jersey em contrapartida com o que está acontecendo no meu pequeno escritório em Boston, de onde ligo para clientes importantes e digo: 'Sinto muito, pessoal, não creio que vocês receberão produto nenhum'".

FONTE: IG/ECONOMIA/NEW YORK TIMES (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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