Jornal argentino diz que militares invadiram prédio de TV a cabo

21/12/2011 06:31

 

Militares da Argentina invadiram a sede da empresa de televisão a cabo Cablevisión nesta terça-feira, informou o jornal Clarín, que pertence ao mesmo grupo. O prédio está localizado no bairro de Barracas, na capital do país, Buenos Aires.

A notícia é divulgada no momento em que o Congresso argentino vota um projeto de lei que declara o papel-jornal como um bem de interesse público, com o argumento de que é necessário regular sua atividade comercial para que deixe de ser controlado apenas pelos princípios de mercado.

Hoje, a única fábrica de papel-jornal da Argentina tem a participação do Estado, mas é controlada pelo Clarín e pelo La Nación, publicações em constante conflito com a presidenta Cristina Kirchner.

De acordo com o Clarín, cerca de 50 militares invadiram a sede da Cablevisión por ordem da Justiça da cidade de Mendoza, onde a companhia não opera, após uma denúncia por suposto “abuso de posição dominante” feita pela empresa Supercanal, do grupo Vila-Manzano, aliado do governo que manifestou apoio ao projeto de lei.

A operação teria durado três horas, sendo encerrada após os advogados da Cablevisión afirmarem que a Justiça de Mendoza não tinha jurisdição sobre o caso. Não está claro, segundo o jornal, quem ordenou a retirada dos militares, que respondem ao Ministério da Defesa. O presidente da Cablevisión, Damián Cassino, afirmou que a empresa apresentou queixa por entrada ilegal, violação de domicílio, abuso de autoridade e exibição de armas.

O Clarín afirmou que os militares chegaram acompanhados de câmeras do canal estatal e que reviraram bolsas e pediram todo tipo de documentos aos executivos da empresa. Também estava presente Enrique Anzoise, um interventor designado pelo juiz Walter Bento, de Mendoza.

Papel–jornal

Na quinta-feira, o projeto de lei sobre o papel-jornal foi aprovado pela Câmara com 134 votos a favor, 92 contra e 13 abstenções. A medida seguiu para o Senado para votação prevista na quinta-feira de 22 de dezembro.

O projeto busca "assegurar para a indústria nacional a fabricação, comercialização e distribuição regular e confiável da pasta de celulose para o papel de jornal" a pessoas físicas e jurídicas com domicílio no país. O texto estabelece critérios de preços, comercialização e produção para atender à demanda interna dos jornais por meio de um aparato regulatório a cargo do Ministério da Economia.

Se aprovada no Senado, a lei desrespeitará a Convenção Americana de Direitos Humanos – o Pacto de San José de Costa Rica –, que proíbe expressamente a aplicação de controles sobre papel-jornal. Atualmente, a empresa Papel Prensa, controlada por Clarín (49%), La Nación (22%) e pelo Estado (27,46%), é a única fornecedora do país de papel para jornal, com uma produção anual de 170 mil toneladas.

Caso o projeto seja aprovado, o Clarín e o La Nación terão de vender suas ações, já que as novas normas proíbem que empresas de jornais impressos possam ter ações na Papel Prensa.

Durante o debate na Câmara, a oposição denunciou que a lei faz parte de "uma longa série de ações dirigidas a controlar os meios de comunicação" e é uma "estatização encoberta" da única fábrica de papel jornal do país.

Neste domingo, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) reagiu ao projeto afirmando que "dará ao governo argentino o poder de limitar o acesso das empresas jornalísticas ao papel, numa evidente ameaça à liberdade de imprensa".

A decisão é mais um capítulo no confronto entre o governo e os jornais Clarín e La Nación, que no ano passado foram acusados de crimes contra a humanidade por supostas manobras para assumir o controle da Papel Prensa durante a última ditadura militar na Argentina, entre os anos de 1976 e 1983.

FONTE: IG/ÚLTIMO SEGUNDO/MUNDO/EFE (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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