Melancolia dá o tom em novo disco de Chico Buarque

14/07/2011 06:44

 

"Chico", o primeiro disco de inéditas de Chico Buarque desde "Carioca", de 2006, já é conhecido. O álbum começou a ser entregue nesta semana àqueles que compraram pela pré-venda no site www.chicobastidores.com.br.

No site do álbum, estão sendo divulgados clipes em que Chico comenta o processo de gravação e áudio de algumas músicas. Até esta quarta-feira (13 de julho), o projetop havia recebido 455 mil recomendações via Facebook.

No formato CD, "Chico" chega às lojas no próximo dia 22, segundo a assessoria do cantor. Tem participações de João Bosco, Ivan Lins e duetos com Wilson das Neves e a jovem cantora Thaís Gulin.

O novo trabalho segue a prumada etérea dos (não tão) recentes discos anteriores, "Carioca" (2006) e "As Cidades" (1998). Desde ali, ele vem trazendo para sua música a atmosfera irreal, absurda e inconsistente dos quatro romances que escreveu do início dos anos 90 para cá: "Estorvo" (1991), "Benjamin" (1995), "Budapeste" (2003) e "Leite Derramado" (2009).

O álbum é aberto por "Querido Diário", em que o narrador que parece flanar meio fora do tempo e do espaço anda pelas ruas desejando coisas como "de alguma ovelha talvez fazer sacrifício" e "amar uma mulher sem orifício". "É um novo 'Cotidiano'", descreve o compositor em vídeo do site, referindo-se à canção de 1971.

A segunda canção é "Rubato", que em vídeo Chico explica significar "roubado" em italiano. A letra faz jogo de espelhos em primeira pessoa em torno de um compositor que rouba a canção de outro compositor que roubou a canção de um terceiro compositor. Como se percebe, tal narrador poderia ser o protagonista de qualquer dos livros do autor. E Chico, o autor, cuida de manter e cultivar a imagem de um criador imerso em constante crise identitária, que parece compreender a si próprio por meio de lapsos.

"Meu tempo é curto/ O tempo dela sobra/ Meu cabelo é cinza/ O dela é cor de abóbora", canta Chico no início de "Essa Pequena". A canção segue com piano e violão em clima de blues, com letra otimista. "Sinto que ainda vou penar com essa pequena/ Mas o blues já valeu a pena", encerra.

De letra diáfana, "Tipo um Baião" brinca com o uso coloquial do termo "tipo" e termina, aparentemente displicente, em referência amorosa ao pernambucano Luiz Gonzaga: "E ainda tem/ em saraus ao luar/ meu coração/ que você sem pensar/ ora brinca de inflar/ ora esmaga/ igual que nem/ fole de acordeão/ tipo assim num baião/ do Gonzaga".

Thaís Gulin faz par com Chico em "Se Eu Soubesse". Cantam um para o outro como dois amantes amarrados um ao outro: "Ah se eu  pudesse não caía na tua/ Conversa mole outra vez".

A melancolia faz sombra em grande parte do disco, comona bossa-novística em "Sem Você 2". "Pois sem você/ O tempo é todo meu/ Posso até ver o futebol/ Ir ao museu, ou não".

Wilson das Neves ajuda a clarear o clima do álbum em "Sou Eu", um samba suave que é uma das boas surpresas do CD. Menos reflexiva, mais intuitiva, dinâmica, afirmativa: "Sou eu/ Só quem sabe dela sou eu/ Quem dança com ela sou eu/ Quem manda no samba sou eu".

"Nina" remete a um dos países de sonhos, talvez de pesadelos, dos protagonistas dos livros de Chico: "Nina adora viajar, mas não se atreve/ num país distante como o meu". Figura de ficção, inspirada segundo o autor em personagem de Greta Garbo, a Nina da canção sequer conhece o narrador: "Nina anseia por me conhecer em breve/ me levar para a noite de Moscou/ sempre que esta valsa toca/ fecho os olhos, tomo alguma vodca/ e vou". De novo, e como de hábito no conjunto de obras concebido pelo compositor desde os anos 90, o pique é de franca e forte melancolia.

Mulheres e nostalgia, dois temas caros à obra de Chico, são o fio condutor de "Barafunda". "Era Aurora/ Não, era Aurélia/ Ou era Ariela/ Não me lembro agora/ É a saia amarela daquele verão/ Que roda até hoje na recordação". É uma canção de uma saudade alegre, com Chico pingando nos versos nomes como Pelé, Garrincha, Zizinho, Cartola e Mandela.

"Chico" é encerrado por "Sinhá", com participação de João Bosco. "Para que me pôr no tronco/ Para que me aleijar/ Eu juro vosmecê/ Que nunca vi Sinhá", desespera-se o narrador.

FONTE: IG (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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