Polícia faz buscas por suspeito de lançar rojão que matou cinegrafista

11/02/2014 08:25

 

Policiais da 17ª DP (São Cristóvão) fazem buscas na manhã desta terça-feira para cumprir um mandado de prisão e de busca e apreensão, expedidos pela Justiça na noite de ontem, contra o suspeito de lançar o rojão que matou o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio de Andrade. O profissional teve morte cerebral nesta segunda-feira.

O suspeito deveria se apresentar na delegacia que investiga o caso, o que não aconteceu durante toda a madrugada. De acordo com a Polícia Civil, ela já é considerado foragido. Agentes fazem diligências nos endereços que o homem pode estar.

Cinegrafistas e profissionais de imprensa realizaram um ato em memória de Santiago Andrade, durante esta manhã, na porta da 17ª DP (São Cristóvão). Câmeras fotográficas e filmadoras foram colocadas no chão e, em seguida, foi realizada uma oração em memória do profissional. Santiago Andrade, de 49 anos, foi atingido na cabeça por um rojão durante protesto na última quinta-feira.

O outro envolvido, Fábio Raposo, 22 anos, que passou o artefato para o acusado, está preso no Complexo Penitenciário de Bangu e foi indiciado por tentativa de homicídio e crime de explosão. O suspeito foi reconhecido por meio de foto e vídeo por Fábio, preso anteontem e indiciado como coautor do crime. As imagens foram levadas à Penitenciária Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó. Fábio aparece nos vídeos entregando o material explosivo ao suspeito, instantes antes da explosão.

O advogado de Fábio, Jonas Tadeu Nunes, esteve na tarde desta segunda na 17ª DP (São Cristóvão) para entregar o nome do suspeito ao delegado. No entanto, mais cedo, ele disse que não foi o seu cliente o responsável pela identificação do suspeito. Segundo ele, Fábio apenas o conhecia por apelido e indicou um amigo que teria contato com o suspeito. “Ele não teve dúvida em reconhecê-lo. Já tínhamos informações sobre ele, mas precisávamos de uma confirmação. O reconhecimento foi fundamental”, enfatizou o delegado Maurício Luciano, da 17ª DP, em entrevista coletiva.

No primeiro depoimento, Fábio alegou que não conhecia o suspeito, mas mudou a sua versão e decidiu colaborar com as investigações. Ele disse à polícia que não tinha uma relação de amizade com o suspeito, mas o conhece de outras manifestações. De acordo com o depoimento, o suspeito possui um perfil violento. “A intenção dele era ferir ou matar os policiais. Infelizmente, o Santiago foi colocado na linha de tiro”, disse o delegado.

O suspeito foi indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar) qualificado pelo uso de explosivo, com pena de até 35 anos de prisão. Se for comprovada uma ligação dele com os black blocs — uma ‘organização criminosa’, segundo a polícia — a pena pode ter seis anos de acréscimo. O suspeito tem duas passagens pela polícia. Em uma delas, ele se identificou como vítima por ter supostamente sofrido agressões em uma manifestação. No outro registro, é citado como autor de um crime de menor potencial ofensivo, que não foi detalhado.

 

Mais uma vítima

Com a sua morte, Santiago se tornou a 135ª vítima entre jornalistas em coberturas de risco no mundo, de acordo com um levantamento feito pelo Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), com registros desde 1992. “No ano passado, muitos jornalistas se feriram em manifestações no Brasil. As autoridades deveriam ter aprendido com essas experiências. E garantir que todos os jornalistas pudessem cobrir as manifestações de maneira segura. É chocante que aconteça algo assim”, criticou o jornalista argentino Carlos Lauria, coordenador sênior do CPJ nas Américas.

Para Lauria, a violência em meio às manifestações se tornou um problema para jornalistas no Brasil e na Turquia. A diferença, segundo ele, é que na Turquia há apenas registros de vítimas de agressão. Desde o início dos protestos, foram 117 casos de agressão a jornalistas, segundo a Abraji.

Uma pessoa violenta, com a ‘função’ de agredir

O delegado Maurício Luciano disse que o suspeito procurado é violento. “Fábio contou que esse rapaz é o cara que tem a função de brigas, de agressões, mas não entrou em detalhes se ele usava explosivos, porém contou que ele se utilizava de qualquer instrumento a sua mão para praticar suas agressões”.

Fábio também não revelou o que ele e o suspeito conversaram no momento em que passou o rojão para o segundo indiciado. “Ele não mudou o depoimento em relação ao primeiro prestado. Apenas colaborou em dizer quem era a pessoa. Sobre a questão da dinâmica, ele não quis se manifestar”, disse Maurício. O advogado de Fábio, Jonas Tadeu Nunes, contou que se ofereceu para defender o suspeito.

“A defesa que eu fizer para o Fábio vai ser a mesma para ele. A melhor forma de ele encarar tudo isso é se entregar. É uma bobagem ficar foragido”, disse Nunes. O delegado afirmou que não há, no momento, negociação para ele se entregar.

 

Perfil

Com 20 anos de profissão e 10 na Rede Bandeirantes, Santiago Ilídio de Andrade, de 49 anos, ganhou dois prêmios com reportagens sobre mobilidade urbana, em 2010 e 2012. Um deles mostrava justamente o drama de passageiros de trens e ônibus no Rio, que ganhou ainda mais visibilidade com os protestos contra aumento das passagens iniciados em 2013.

Casado há 30 anos, pai de uma filha e com três enteados, ele fez diversas coberturas nas ruas e operações policiais, inclusive as mais recentes manifestações contra o reajuste das tarifas. De acordo com colegas, ele era uma pessoa gentil, responsável e segura até mesmo nas coberturas mais arriscadas. Ele se formou no curso de preparação para jornalistas em áreas de conflito, ministrado pelo Exército, em 2013.

De acordo com o instrutor do curso, tenente-coronel Fernando Moleta, do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (Ccopab), durante as aulas, Santiago era ‘calmo, sereno, reservado, disciplinado e atento a tudo o que era falado pelos palestrantes’.

“Seu semblante se mostrava constante e inalterado aos diversos desafios e atividades a que era submetido, sempre cumprindo as tarefas com cautela, dedicação e profissionalismo.”
O cinegrafista era flamenguista e já havia sido DJ, duas grandes paixões, além do Jornalismo. Estava escalado para cobrir o Carnaval, no Rio e na Argentina, e a Copa do Mundo de futebol, no Brasil.

FONTE: IG/O DIA (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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