Prestes a deixar o cargo, presidente da Rússia admite 'decepção'

01/05/2012 07:31

 

Durante uma entrevista de duas horas concedida à televisão russa no dia 19, o presidente Dmitri A. Medvedev admitiu ter ficado decepcionado com alguns dos objetivos que não foram cumpridos durante sua presidência de quatro anos, dizendo que seus esforços anticorrupção foram bloqueados "porque as autoridades governo são iguais a uma corporação e não querem que ninguém se intrometa em seus assuntos".

Medvedev também defendeu seu histórico como presidente, citando os recentes protestos antigovernamentais como prova de que a Rússia se tornou um país mais livre. Ele disse que sua parceria política com Vladimir Putin, que assumirá a presidência no dia 7 de maio, continuará "por um bom tempo."

O retorno de Putin ao poder fez com que a relação política entre os dois fosse questionada. A Medvedev, de longe a figura mais fraca entre os dois, foi prometido o cargo de primeiro-ministro, embora nos primeiros dois mandatos de Putin como presidente, de 2000 a 2008, seus premiês não tenham sido influentes ou ocupado a posição durante muito tempo.

"Já anunciamos nossos planos e não é preciso se preocupar", disse Medvedev. "Isso vai ser posto em prática durante um longo período de tempo."

A entrevista se destacou por seu formato diferente e improvisado. Putin e Medvedev foram entrevistados pelos chefes dos três canais de televisão federais, que não questionaram suas respostas. Mas no dia 19 de abril, Medvedev concordou em enfrentar um grupo mais jovem e mais cético.

O resultado foi um debate não muito educado. Embora Medvedev tenha dito que a censura é ilegal na Rússia, o apresentador Alexei Pivovarov o contradisse, dizendo que como funcionário de um dos três principais canais da Rússia, ele se deparava frequentemente com "limitações que não me permitem realizar os meus deveres profissionais por completo."

Outro repórter perguntou a Medvedev se ele compreendia que os dissidentes políticos na Rússia "precisam estar preparados para tomar posições mais extremas", e perguntou se ele tinha "experimentado uma sensação de desespero" em meio à turbulência política dos últimos meses.

"Sou presidente e não posso expressar minhas emoções", disse Medvedev. "Tenho um péssimo humor, mas nunca me desespero. Quando fico de mau humor, vou malhar e meu humor se estabiliza. E então eu tomo uma decisão – mesmo que seja uma decisão desagradável em alguns casos".

Embora Medvedev não tenha falado de assuntos variados, alguns temas incomuns foram abordados. Quando ele estava discutindo os sucessos da reforma da força policial, um entrevistador interrompeu e perguntou se ele estava se referindo à Geórgia, uma questão que ele evitou. No entanto, parecia que era exatamente sobre isso que ele estava falando. Os líderes russos raramente mencionam o governo georgiano, exceto como um adversário geopolítico.

Um repórter sugeriu que ele indicasse a Alexei Navalny, uma figura de oposição raramente mencionada na televisão, para ser chefe de uma comissão anticorrupção. Medvedev disse que a luta contra a corrupção deve ser um assunto do governo e evitou mencionar o nome de Navalny.

"Não recomendaria nomear ninguém para se tornar um ícone, pois para alguns desses ativistas esta é uma verdadeira guerra contra a corrupção que é movida por sentimentos altruístas, e para outros, é um programa político, ou até mesmo uma aventura política", , disse. "Não é filantropia, é uma guerra política."

Embora ele tenha citado os protestos de dezembro como a principal evidência de que a Rússia se tornou mais livre durante a sua presidência, Medvedev disse que não era o suficiente para despertar a comoção dos liberais que ficaram desapontados quando ele concordou em deixar o seu cargo.

Medvedev defendeu a decisão de Putin para retornar a um terceiro mandato presidencial, que ele disse ter sido confirmado pelos resultados da eleição presidencial que ocorreu no mês passado. Ele rejeitou a ideia de que fraudes de votos faziam parte dos ciclos eleitorais legislativos e presidenciais, dizendo que "esse tipo de fraude não é possível realizar nessa escala nacional” e que "o resultado sempre refletiu a vontade do povo."

Ele ofereceu uma avaliação diferenciada de uma greve de fome prolongada que ocorreu na cidade de Astrakhan que chamou a atenção do país neste mês, logo depois que um candidato da oposição à prefeitura disse que as eleições fraudulentas haviam lhe custado a vitória.

"Esses ‘jogos vorazes’ me fazem lembrar de um filme medíocre de Hollywood ", disse Medvedev.

FONTE: IG/ÚLTIMO SEGUNDO/MUNDO/NYT (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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