Professor descobre fósseis de 270 milhões de anos

24/08/2013 08:13

 

Seres que viveram há milhares de anos estão movimentando o universo dos pesquisadores e paleontólogos do Estado de São Paulo. Um professor da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) descobriu fósseis de 270 milhões de anos, período anterior a era dos dinossauros, em sete cidades do interior Paulista.

Tratam-se de troncos petrificados ou permineralizados, como preferem os pesquisadores, de coníferas fósseis, árvores similares às araucárias.

Pesquisadores do campus da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto também descobriram em Nova Iorque, no interior do Maranhão, fósseis do primeiro tetrápode jurássico coletado no Brasil. As descobertas mostram a riqueza guardada em solo brasileiro e abrem diversas possibilidades para o campo de pesquisa.

O professor da Faculdade de Ciências Biológicas da PUC-Campinas Rafael Faria estudou 30 amostras de fragmentos de lenhos, encontradas nos municípios paulistas de Piracicaba, Saltinho, Rio Claro, Santa Rosa de Viterbo, Angatuba, Conchas e Laras.

A pesquisa foi para sua tese de doutorado defendida este ano na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sob a orientação da professora Fresia Ricardi Branco.

O grupo de amostras era resultado de empréstimos, doações e de coletas feitas por ele em campo. "Trabalhei identificando quais árvores estavam presentes aqui no Estado de São Paulo em dois momentos do período Permiano, há 270 milhões de anos atrás" .

O objetivo principal segundo Faria, era estudar a diversidade daquele período e que tipos de árvores eram representadas por esses fragmentos. Para isso, o pesquisador analisou as células do tecido vegetal das amostras preservadas. Os cortes na madeira precisaram ser feitos com serras especiais e os fragmentos foram, então, estudados em estereoscópio e em microscópio eletrônico.

"Alguns dos fósseis foram classificados como espécies novas, mas todas eram fragmentos de coníferas, ou pinheiros fósseis. Essa época que existiram, no período Permiano, é anterior a era dos dinossauros" , diz.

A pesquisa levou Faria a outras descobertas. Em alguns dos pedaços de madeira petrificados tinham fungos fossilizados. Um registro considerado inédito no Brasil para esse período. "Consegui observar filamentos de fungos que se fossilizaram junto. Ninguém havia observado a associação entre fungo e madeira até então" .

A partir da identificação dos fungos, o pesquisador pôde concluir que as árvores viviam em condições de estresse ambiental. Com a análise do tecido vegetal das amostras ele também verificou que as árvores apresentavam adaptações ao estresse hídrico - falta de água. Faria explicou que no período Permiano o Estado de São Paulo era muito seco. "Era uma tendência global nesse período. O mundo inteiro estava mais seco" .

Além da importância primária de se conhecer a história evolutiva dos pinheiros que existiram há muito tempo e como era o panorama da vegetação no Estado no período Permiano, as descobertas são consideradas extremamente importantes, pois podem futuramente ser aplicadas à preservação dessa e de outras espécies que existem.

"Quanto mais se conhece da história evolutiva de qualquer linhagem, mais bagagem você tem para aplicar à preservação do que existe dela hoje em dia que são as araucárias" , afirmou.

Tetrápode Jurássico

Um pouco mais adiante, mais especificamente em Nova Iorque, no interior do Maranhão, o professor e pesquisador Felipe Montefeltro, sob a coordenação do professor Max Langer - ambos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP - encontraram o primeiro tetrápode jurássico coletado no Brasil.

Os fósseis do crocodiliforme - grupo que congrega os jacarés e crocodilos viventes assim como alguns de seus parentes extintos - foram localizados há um ano e em julho deste ano, em parceria com pesquisadores do Canadá e da Universidade Federal do Vale do São Francisco, os professores da USP publicaram o estudo na versão eletrônica da revista alemã Naturwissenschaften.

Com idade aproximada de 150 milhões de anos, a nova espécie teria cerca de um metro, calculado com base nos ossos. Os pesquisadores encontraram um crânio parcial e parte do pós-crânio. Até o momento, apenas o crânio foi estudado.

"Ele tinha uma combinação de características que permitiram propor uma espécie nova. Também tem características gerais compartilhadas por boa parte dos crocodiliformes: rosto alongado, dentes com a mesma morfologia em toda a série dentária. Além disso, era semiaquático e piscívoro" , diz. A espécie coloca a origem do grande grupo dos crocodiliformes como mais antiga do que se pensava até o momento.

Segundo Motefeltro, o grupo estava em busca de rochas do período Permiano quando os fósseis foram encontrados. "A princípio, o pessoal achava que era anfíbio, mas quando trouxeram para o laboratório descobrimos se tratava de um crocodiliforme e que eles não ocorrem no Permiano. Os fósseis estavam em uma rocha de arenito.

O achado, segundo o pesquisador tem duas grandes importâncias. Até então era conhecido apenas na Ásia central (China, Mongólia e Uzbequistão), o que sugere que os animais tinham grande capacidade de dispersão, cruzando barreiras oceânicas para isso, ou que as grandes massas da terra na época (Gondwana e Laurásia) tinham faunas não muito diferentes do que se imaginava. Outro fato destacado pelo pesquisador é de ter sido o primeiro tetrápode do Brasil do período jurássico. "Isso abre possibilidades imensas de se encontrar outros materiais naquele tipo de rocha" , completou.

Ossada humana

Pesquisadores da Equipe Argentina de Antropologia Forense consideraram grosseiros os erros de peritos que trabalharam na classificação das mais de 1.049 ossadas descobertas em uma vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus, em 1990, onde presos políticos também foram enterrados. O trabalho feito logo após a localização das ossadas por peritos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi considerado nulo pelos especialistas argentinos. A universidade afirma que a perícia foi tecnicamente correta.

De acordo com o Ministério Público Federal, das 1.049 ossadas encontradas em Perus, a grande maioria pertence a indigentes e vítimas de esquadrões da morte. Mas corpos de presos políticos também foram enterrados no local. De acordo com a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, seriam 14. Os trabalhos tiveram início em 1990, mas, das mais de mil ossadas, apenas doze foram identificadas. O relatório foi feito pela antropóloga Patrícia Bernardi, da equipe argentina de antropologia forense, com sede em Buenos Aires, após pesquisa em que buscava os restos mortais de Hiroaki Torigoe, militante do Movimento de Libertação Popular.

A pesquisadora analisou sacos de 21 ossadas, que de acordo com laudos prévios da Unicamp teriam possibilidade de conter restos mortais de Torigoe. O material estava em más condições, sujos e com fungos. Quatro eram de mulheres. O laudo final apontou que o militante de 27 anos não estava lá. Patrícia também considerou que as análises feitas pelos pesquisadores da Unicamp tinham muitas medidas e poucas conclusões e que não eram confiáveis.

A Unicamp informou que a perícia nas ossadas foi tecnicamente correta, tendo resultado na identificação de sete desaparecidos políticos: Sônia Maria de Morais Angel Jones, Antônio Carlos Bicalho Lana, Denis Casemiro, Helber José Gomes Goulart, Frederico Eduardo Mayer, Emanuel Bezerra dos Santos e Maria Lucia Petit da Silva.

Também disse que a ação civil pública que o Ministério Público Federal move contra a Unicamp e outras instituições que atuaram na perícia não imputa à Universidade erros de procedimento, e sim atraso na conclusão dos trabalhos, o que é plenamente justificável em razão da tecnologia disponível no início da década de 1990 e do péssimo estado de conservação em que foram encontradas as ossadas. E que, apesar de, à época, não contar com a tecnologia disponível atualmente, a Unicamp entende que colaborou diretamente para a identificação de desaparecidos políticos no País.

Em junho deste ano foi criada uma Comissão Especial pela Secretaria de Direitos Humanos com a finalidade de busca, localização, identificação arqueológica e antropológica de espaços e de restos mortais de mortos e desaparecidos políticos.

FONTE: IG PAULISTA/RAC.COM.BR (CLIQUE AQUI para redirecionar)

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