Sem resultados, CPI do Cachoeira teve final melancólico

30/12/2012 08:08

 

Homem das finanças do ex-presidente Juscelino Kubitschek, o mineiro José Maria Alkmin disse, nos idos dos anos 1950, que, no Brasil, quando não se queria investigar nada, uma CPI era criada. Em 2012, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) condenava políticos no julgamento do mensalão, o Congresso Nacional manteve viva a assertiva de Alkmin. Após oito meses de trabalho, a CPI do Cachoeira terminou com um relatório de duas páginas aprovado por esmagadora maioria de seus sem que nenhum dos suspeitos fosse indiciado.

A comissão que nasceu para apurar a ligação de deputados, senador, vereadores, prefeitos e governadores com o esquema de desvio e lavagem de dinheiro que tinha como alvo a Construtora Delta, do empresário Fernando Cavendish, e o contraventor de jogos ilegais Carlos Augusto de Almeida Ramos, Carlinhos Cachoeira, teve, assim, um final “melancólico”, na avaliação de parlamentares que dela participaram.

A CPI envolveu nomes como os dos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Foram 40 depoentes convocados, sendo que 24 deles ficaram calados, protegidos por liminares que lhes garantiam silêncio – incluindo o próprio Cachoeira, pivô do esquema de corrupção investigado por duas operações da Polícia Federal (Monte Carlo e Saint Michel).

Ao final da apuração, o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), apresentou um texto com mais de 5 mil páginas, aliviando o petista Agnelo e pedindo o indiciamento do tucano Perillo. Sobrou até para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o que causou revolta em muitos parlamentares, sobretudo da oposição.

O relator foi acusado por colegas de não abrir investigação sobre empresas envolvidas no esquema de Cachoeira. A CPI também ‘blindou’ o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), amigo de Cavendish. A blindagem gerou polêmica que envolveu o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), flagrado pelo telejornal ‘SBT Brasil’ trocando mensagem com Cabral durante a comissão, na qual afirmava: “Você é ‘nosso’ e nós somos ‘teu’” .

A CPI terminou com a derrota do relatório de Cunha. Quando o quadro parecia incerto, o deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) apresentou um outro documento de apenas duas páginas, aprovado imediatamente por membros da comissão por 21 votos a favor, ante sete contrários. A ‘operação abafa’ foi classificada por parlamentares como a maior ‘pizza’ já produzida pelo Congresso Nacional. "Em plena festa natalina, este relatório final é uma presepada", disse o deputado Rubens Bueno (PPS-PR).

O líder do PPS na Câmara correu para colher assinaturas de colegas e abrir uma nova comissão, a CPI de Rosemary , que se propõe a investigar o esquema de venda de pareceres técnicos por agências reguladoras desbaratado pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, envolvendo a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Nóvoa de Noronha.

Esquema de R$ 84 bilhões

O Congresso tenta, agora, emitir a mensagem de que a CPI do Cachoeira não foi de todo em vão. Para isso, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, a pedido da Corregedoria, encaminhou ao Conselho de Ética da Casa um pedido de cassação do mandato de Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO).

O deputado goiano, que nunca negou amizade com o bicheiro, chegou a usar a tribuna da Câmara para dar parabéns a Cachoeira por seu seus 49 nos, completados em maio, quanto esteve preso no Presídio da Papuda, em Brasília. "A relação dele (Leréia) é acima da amizade, é uma relação de ganhos e intimidade que não se compatibiliza com o mandato parlamentar", afirma Jerônimo Goergen (PP-RS).

O destino do goiano pode ser o mesmo do ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO) , cassado em julho por ligações com Cachoeira.

A CPI ainda busca uma sobrevida por meio do Ministério Público Federal e da Procuradoria-Geral da República. Todo o material bruto colhido durante a investigação parlamentar será enviado para os órgãos federais continuar o caso. “Esta medida é o melhor caminho que podemos chegar neste momento. O ideal seria a prorrogação dos trabalhos, mas isso já ficou para trás e não vamos remoer isso”, diz o senador Pedro Taques (PDT-MT).

A comissão reuniu ao todo 69.694 páginas de quebras de sigilos bancários, 11.333 páginas se quebra de sigilo fiscal e 45.594 páginas contendo relatos de ligações telefônicas.

Em meio ao emaranhado de números e papéis, está a informação de que Cachoeira e seus ‘laranjas’ têm patrimônio de R$ 160 milhões . O esquema teria movimentado, segundo o relatório recusado de Cunha, R$ 84,3 bilhões em uma década . Cachoeira ficou preso de 29 de fevereiro a 20 de novembro e, agora, está em liberdade, morando em um condomínio de luxo em Goiânia.

FONTE: IG/ÚLTIMO SEGUNDO/POLÍTICA (CLIQUE AQUI para redirecionar)

 

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