"'The Wall' é mais emblemático agora do que quando o escrevi em 1979", diz Roger Waters antes de vir ao Brasil
21/03/2012 07:26Em julho de 1977, o Pink Floyd se reuniu no Britannia Row Studios, em Londres, para ouvir o baixista Roger Waters apresentar duas novas ideias para álbuns conceituais. Um deles, na época intitulado "Bricks In the Wall", lidava com o mergulho de um astro do rock na alienação, isolamento e depressão. O outro traçava uma noite de sonhos de um homem e ideias sobre casamento, família e fidelidade.
"Roger preparou demos de ambos conceitos e disse: 'Um será meu álbum solo, e o outro será um álbum da banda'", recorda o baterista Nick Mason. "E, apesar de 'The Wall' ser mais autobiográfico nós nos relacionamos com ele. Acho que foi a forma como o assunto foi tratado e sobre o que falava que mexeu com todos nós, e foi fácil dizer: 'Bem, nós gostaríamos de fazer esse aí'. Foi unânime, todos decidiram fazer 'The Wall'", diz Mason.
Foi uma boa escolha. Lançado em 1979, "The Wall" se tornou um dos álbuns mais famosos do Pink Floyd, talvez tão popular quanto o marcante "The Dark Side Of The Moon" (1973), vendendo mais de 25 milhões de cópias em todo o mundo. Ele chegou ao primeiro lugar tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido e deu ao Pink Floyd seu maior single de sucesso, "Another Brick in the Wall (Part II)", que chegou ao topo das paradas. O disco ficou em 87º lugar na lista dos "500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos" da revista "Rolling Stone".
"The Wall" ainda permanece forte. Em 2010, Waters começou a apresentar o álbum na íntegra em um show ao vivo aclamado pela crítica, uma produção de US$ 60 milhões que já se apresentou para mais de 1,6 milhão de pessoas e segue contabilizando. Recentemente, como parte da campanha "Why Pink Floyd?" (Por que Pink Floyd?) de relançamento do catálogo, a banda lançou edições "Immersion" e "Experience" de "The Wall", acrescentando os demos originais de Waters e gravações posteriores não lançadas da banda, assim como um documentário, gravações ao vivo e outros materiais.
O amplo significado do muro
"'The Wall' é muito emblemático, talvez ainda mais agora do que quando o escrevi [em 1979]", diz Waters, de 68 anos, que deixou o Pink Floyd em 1985 e processou --sem sucesso-- Mason e o guitarrista David Gilmour quando eles optaram por dar continuidade à banda. "Foi escrito a respeito desse tipo de sujeito que tem tanto medo a ponto de ficar rude consigo mesmo. Suas defesas são tão poderosas por causa dos seus sentimentos de inadequação a ponto de construir um muro ao redor de si mesmo e manter o mundo do lado de fora", teoriza.
Mas, para Waters, é estranho como o macro e o micro frequentemente se espelham. "A história de um homem e de seus relacionamentos fracassados, sua vergonha e seus problemas, pode de alguma forma espelhar uma situação macro global, política e religiosa. Há um muro entre o norte e o sul, entre os ricos e os pobres. Há um muro que chamamos de mídia, que fica entre nós cidadãos e a realidade de nossas vidas. Ele descreve uma condição mais ampla, universal, do que talvez imaginássemos em 1980, mas acho que é o que ainda o conecta ao público".
"The Wall" não foi fácil de construir. "Havia todo tipo de políticas transcorrendo na banda e que não ajudavam", lembra Waters. E, posteriormente, o tecladista Rick Wright foi dispensado da banda. No entanto, Mason lembra que o período foi "na verdade, um dos mais criativos que tivemos".
"O conceito que as pessoas têm é que foi um álbum talhado em rocha por pessoas muito iradas, mas acho que não foi o caso", argumenta Mason, de 68 anos, que se juntou a Gilmour e Waters para uma apresentação em 2011 de "The Wall", na O2 Arena de Londres. "Grande parte da gravação foi bastante civilizada. Acho que a sensação geral era bastante positiva. As coisas se fragmentaram depois, quase no final da gravação. Houve um grande estouro, particularmente entre Roger e Rick, perto do fim do processo", conta Mason.
O baterista recordo ainda de grande parte do processo como sendo bastante "criativo e profissional". "Houve muito mais produção do que nos álbuns anteriores, em relação ao cuidado de todos os integrantes, tocando seção por seção no estúdio, em vez de partirmos para a canção completa, como fazíamos antes".
A lamentável saída de Rick Wright
O produtor Bob Ezrin, trabalhando com a banda pela primeira vez, trouxe uma exigente atenção aos detalhes assim como uma abordagem inclusiva, que ocasionalmente ia contra a visão de Waters. "Acho que Bob foi valioso de muitas formas. Ele estava constantemente produzindo ideias e sentia que, às vezes, até mesmo uma má ideia era uma boa ideia, porque fazia outra pessoa dizer: 'Essa é uma má ideia. Eu tenho uma ideia melhor'".
Foi Ezrin quem sugeriu a levada rítmica distinta de "Another Brick in the Wall (Part II)". "Bob insistia veementemente que tínhamos que fazer um single mais disco, com aquela batida", lembra Mason, rindo. "Só Deus sabe por que decidimos atendê-lo. Nosso senso seria: 'De jeito nenhum! Você perdeu a razão', mas acho que ficamos intrigados com a ideia e pensamos que talvez funcionasse mesmo.
Quanto à saída de Wright, orquestrada por Waters, mas endossada por Gilmour e Mason, hoje o baterista tem dúvidas. "Acho que não deveríamos ter permitido que acontecesse", ele diz. "Nós estávamos em um estado ruim. Acho que até mesmo o Roger pode achar que foi um pouco injusto, mas eu não tenho ideia se alguém poderia ter lidado com aquilo de modo diferente e ter feito funcionar", ele opina.
Ainda assim, Mason acha que acabariam ameaçando uns aos outros ou fazendo algo drástico caso Wright continuasse. "Apesar de ter sido lamentável, eu não vejo, na prática, como poderíamos ter feito funcionar". Wright permaneceu para a turnê subsequente como músico contratado, não como integrante pleno da banda.
Essa versão ao vivo de "The Wall", uma produção gigantesca que realizou apenas 31 shows em quatro cidades em 1980 e 1981, está preservada em "Is There Anybody Out There: The Wall Live 1980-81" (2000), um álbum que está incluído na nova caixa "Immersion". Ironicamente, devido à turnê ter dado prejuízo, Gilmour, Mason e Waters acabaram perdendo dinheiro, enquanto Wright se saiu bem na condição de músico contratado. Ele retornou à banda no final dos anos 80, mas morreu em 2008.
A nova encarnação de "The Wall"
"The Wall" sobreviveu: virou filme em 1982, dirigido por Alan Parker e estrelado por Bob Geldof, dos Boomtown Rats. Em 1990, Waters realizou uma apresentação do álbum, repleta de convidados, para celebrar a queda do Muro de Berlim. E, após tocar "The Dark Side of the Moon" na íntegra com sua própria banda entre 2007 e 2008, ele começou a pensar em levar "The Wall" novamente à estrada.
O elemento central da produção de Waters é novamente um muro de verdade, com 73 metros de largura e 10 metros de altura, que é construído na primeira metade do show e derrubado no final. O show faz amplo uso de bonecos desenhados pelo colaborador do "The Wall" original, Gerald Scarfe, assim como projeções, efeitos especiais --incluindo o famoso porco inflável do Pink Floyd-- e imagens sociopolíticas que ajudam a dar ao show um significado mais amplo.
"É uma peça de teatro", diz Waters, "mas a engenharia e a tecnologia melhoraram, especialmente as técnicas de projeção. Podemos exibir imagens bem nítidas por toda a largura da arena, o que não podíamos fazer antes. Por ser algo muito visual, significa que temos que tocar muito seguindo as deixas eletrônicas. Eu pessoalmente não me importo com isso. Fico feliz em sacrificar a liberdade dos improvisos dos guitarristas, de fazerem qualquer coisa que quiserem, no altar da criação de um show que emocione as pessoas, que seja político e assim por diante".
As várias novas encarnações de "The Wall" saem durante um período de paz renovada entre os integrantes sobreviventes do Pink Floyd. Todos os quatro membros se reuniram para uma apresentação no Live 8 em 2005, e Mason diz que quando ele, Waters e Gilmour se apresentaram em Londres no ano passado, foi relativamente indolor. "Foi bom", diz o baterista. "Mostrou que ainda podemos trabalhar juntos e estarmos na companhia uns dos outros, e que ainda há aquilo que eu suponho que seja amizade".
Mason conclui que todos eles se tornaram um pouco mais inteligentes à medida que envelheceram. "Se há algum pesar, poderia ser o de não termos crescido mais cedo para podermos ter trabalhado e feito muito mais coisas juntos. Mas, infelizmente, a indústria da música não é o melhor lugar para crescer". (Tradução: George El Khouri Andolfato)
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan
ROGER WATERS EM PORTO ALEGRE
Quando: 25 de março de 2012
Onde: Estádio Beira Rio
Quanto: R$ 180 (cadeira descoberta), R$ 240 (pista), R$ 240 (anel inferior), R$ 280 (cadeira coberta), R$ 500 (pista prime)
Ingressos: www.ticketsforfun.com.br, 4003-5588, nos pontos de venda autorizados e na loja Multisom.
ROGER WATERS NO RIO DE JANEIRO
Quando: 29 de março de 2012
Onde: Engenhão
Quanto: R$ 180 (superior oeste), R$ 180 (superior leste), R$ 250 (pista), R$ 300 (inferior oeste), R$ 300 (inferior leste), R$ 600 (pista prime)
Ingressos: www.ticketsforfun.com.br, 4003-5588, nos pontos de venda autorizados e na bilheteria oficial, no Citibank Hall/RJ.
ROGER WATERS EM SÃO PAULO
Quando: 1º e 3 de abril
Onde: Estádio do Morumbi
Quanto: de R$ 180 (PNEs) a R$ 600 (setor prime)
Ingressos: www.ticketsforfun.com.br, 4003-5588, nos pontos de venda autorizados e na bilheteria oficial, no Citibank Hall/SP.
FONTE: UOL MÚSICA/NEW YORK TIMES (CLIQUE AQUI para redirecionar) CONFIRA VÍDEO E OUTRAS MÍDIAS NO REDIRECIONAMENTO
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